Vivi Coelho – Viviane Coelho Moreira
MINHA EXPERIÊNCIA NO FÓRUM DAS JUVENTUDES
Sou Viviane Coelho Moreira. Me graduei em Serviço Social pela PUC Minas e hoje sou mestranda em Ciência Política pela UFMG. Tenho uma atuação de ativismo que se iniciou com reflexões sobre questões raciais e com o desejo de conhecer e de trabalhar com a educação popular. Além disso, sou uma das fundadoras do Instituto de Desenvolvimento e Promoção Social Tucum, de Santa Luzia. Faço parte também do coletivo artístico-cultural Negras Autoras e da Rede Estadual de Mulheres Negras. Sou uma mulher preta em movimento, ligada ao Fórum das Juventudes da Grande BH e que hoje atua como articuladora política institucional da Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC).
Iniciei minha trajetória política pelo Tucum – o Instituto de Promoção e Desenvolvimento Social Tucum, que surgiu em Santa Luzia, no ano de 2009, oriundo dos movimentos sociais ligados à Igreja Católica. Esse instituto já participou ativamente de importantes mobilizações na cidade e na RMBH, e também da política institucional, do poder legislativo e executivo do município de Santa Luzia. Mas houve um momento em que as trajetórias das pessoas ganharam rumos distintos. Isso nos afastou e o movimento se desarticulou por um tempo. Mas o Instituto se manteve e, recentemente, na pandemia, ele retomou suas atividades com maior afinco. Acredito que os desafios da pandemia provocaram uma nova mobilização.
No Tucum, eu conheci o Everton, que em 2012 nos apresentou o Fórum das Juventudes. Naquela época, discutimos a importância estratégica de compormos o Fórum. Então, eu e uma outra integrante, a Kate, assumimos a responsabilidade de representar o Instituto no âmbito do Fórum. Isso aconteceu na época da construção da plataforma Juventudes Contra a Violência.
Durante o período de construção da plataforma, participamos de um processo imersivo para promover as discussões e as formações em torno da pauta. Havia várias pessoas, de vários lugares do país, para contribuir com aquela construção política. E eu lembro que, quando eu e Kate chegamos no local da imersão, ficamos impressionadas. A gente falou: “Meu Deus! Que lugar é esse? Que tanto de gente…”. Porque, até então, eu havia estado em pouquíssimos lugares com tantas pessoas notáveis e ao mesmo tempo acessíveis discutindo sobre a violência contra as juventudes, com uma incidência política muito grande. Ficamos muito encantadas e, ao voltar para o Tucum, falamos com o pessoal: “Gente, vocês não têm noção! A gente aprendeu tanta coisa, foi incrível!”. Foi uma experiência muito marcante nos níveis coletivo e pessoal.
O Fórum tem uma intensidade muito grande em tudo o que faz, seja nas festas, nas discussões, nos materiais, nas produções. Tudo é muito potente, e isso ficou muito evidente para nós já naquela primeira experiência imersiva. Lá, pudemos estabelecer uma proximidade maior com a instituição e com o movimento, e isso foi muito importante para irrigar o trabalho do Tucum, porque a forma de incidência política que a gente consegue na região metropolitana é muito diferente da capital.
A região metropolitana tem diversos desafios que são muito particulares, não se comparam com os da capital. Então, quando você tem um Fórum que tem uma abrangência intermunicipal, mas cujo núcleo fundante é estabelecido no centro da capital, isso irriga e reverbera bastante na região periférica e metropolitana. Essa percepção acerca da incidência política do Fórum na região metropolitana se evidenciou para nós quando começamos a levar os aprendizados e discussões a Santa Luzia, e ao mesmo tempo a atuar, no Fórum, como representantes de um coletivo/organização de fora da capital.
Minha participação no Fórum teve início em 2012, mas foi em 2014 que minha atuação se tornou mais intensa. Na época, eu trabalhava com polícias públicas, atuando como gestora do núcleo de enfrentamento ao tráfico de pessoas do governo de MG, mas não estava satisfeita com aquele lugar, por não enxergar muito resultado no trabalho que fazíamos. Eu decidi, então, sair do Estado e procurar outros caminhos para a minha vida. E tal decisão coincidiu com um período de mudança na Secretaria Executiva do Fórum das Juventudes. Naquele contexto, muito impulsionada pelo Everton, decidi me candidatar a uma vaga na Secretaria Executiva.
Eu ingressei na Secretaria Executiva como mobilizadora, e a Áurea Carolina entrou na coordenação. Naquele momento, ela vivenciava uma experiência parecida com a minha, pois trabalhava na subsecretaria de políticas para mulheres do governo de Minas e se sentiu impelida a migrar para um local que pudesse ter mais incidência política e liberdade de atuação. A Sâmia já estava na comunicação, e novas pessoas foram se inserindo: a Amanda, a Polly Honorato… E com essa equipe trabalhamos até que a Áurea se afastou para concorrer e em seguida assumir o cargo de vereadora na Câmara Municipal de BH. Então, assumi a coordenação do Fórum no lugar dela. Minha atuação na Secretaria Executiva durou, assim, quatro anos: de 2014 a 2017.
Nossa gestão foi marcada por uma atuação voltada a levar a plataforma Juventudes Contra a Violência à Região Metropolitana. Tal processo possibilitou que outros municípios que ainda não integravam o Fórum das Juventudes pudessem participar, como Sarzedo. Realizamos um Okupa em Santa Luzia e aquele Okupa ampliou muito nossa capilaridade, nosss incidência nas periferias fora de Belo Horizonte.
Em 2014, um acontecimento muito importante foi a finalização dos projetos financiados pelo ao Instituto C&A e a entrega dos produtos que haviam sido elaborados no período – como, por exemplo, o jogo Okupa, a plataforma online, o ranking de prefeitos, e um relatório final bem interessante de impacto do Fórum, que foi apresentado pela Priscylla Ramalho (que havia se integrado à equipe da Secretaria Executiva) em vários lugares fora do estado.
De 2014 para 2015, aprovamos um projeto que nos possibilitou atuar junto a três grupos de jovens: os Mafiosos, de Santa Luzia, os jovens da Ocupação Dandara, de BH (região da Nova Pampulha) e o Nosso Sarau, de Sarzedo. O projeto era vinculado à plataforma Juventudes Contra a Violência, e realizamos uma série de oficinas, ministradas por agentes do próprio Fórum, no Núcleo das Juventudes, unidade que é gerida pela AIC e fica no Plug Minas (campos de núcleos de formação juvenil vinculados à Secretaria de Estado de Educação de MG em parceria com várias instituições).
Lembro que os jovens do Dandara tinham uma relação com a criminalidade e, por outro lado, um desconhecimento de acesso à cidade enorme. Alguns deles nunca tinham nem ido ao centro da cidade. O processo todo com aqueles grupos foi muito interessante. Pudemos trabalhar questões de gênero que eram muito aparentes, porque eles tinham dificuldade de lidar conosco, uma equipe majoritariamente formada por mulheres, pois achavam que mulher era pra “cantar”, “beijar na boca”, “transar”, e essa percepção que tinham ficou muito evidente na autoavaliação, na qual eles falaram isso abertamente. Nos contaram que, com a experiência, aprenderam que “não, peraí, existe inteligência nas mulheres”: uma construção básica que faltava na formação cidadã daqueles jovens.
Outro ponto interessante do projeto foi que cada coletivo recebeu uma pequena verba, de R$500,00, para desenvolver um pequeno projeto ou atividade em seu território. Os garotos do Dandara, no início, brincavam: “500 conto que vocês vão dar pra gente? Nós vamos comprar tudo em whisky”, e a gente falava “não, peraí, não é assim!”. E com aquela verba eles fizeram um evento enorme lá no Dandara. Mobilizaram vários comerciantes, venderam churrasquinho, cerveja, pano de prato, e fizeram várias apresentações culturais, foi super legal!
No desenvolvimento do projeto, começamos uma articulação com a SIC – Sociedade Inteligência e Coração (ligada à Igreja Católica e mantenedora do Colégio Santo Agostinho). Em 2016, a articulação se desdobrou em um ciclo de ações da Plataforma de Juventudes Contra a Violência junto a públicos ligados à SIC, envolvendo eventos, cursos de formação e outras atividades. Nos anos seguintes, a SIC se tornaria um importante parceiro financiador do trabalho da Secretaria Executiva.
No mesmo ano de 2016, realizamos também as Conferências Livres de Juventude, indo a alguns territórios, como Cabana do Pai Tomás e Morro das Pedras, para mobilizar e preparar os coletivos e lideranças para a Conferência Municipal de Juventude. No período, participei também do Seminário Nacional e do Seminário Internacional de Periferias, no Rio de Janeiro.
Para mim, a principal causa do Fórum é o reconhecimento dos jovens como sujeitos de direitos e de ação política ativa na sociedade. Ele entra num papel de proteção do direito à vida, como um grito de “deixa essa juventude viver!”, contra o genocídio da juventude negra e periférica. Essa é a atuação política mais urgente do Fórum, é um contexto muito doloroso.
O Fórum consegue potencializar as percepções dos jovens acerca do contexto em que eles vivem. Alguns jovens conseguem de saída identificar que existe um processo racista, genocida, misógino, LGBTfóbico na origem e na forma da opressão que eles sofrem, mas outros acabam colocando em si uma carga de culpa, como se eles é que estivessem nos lugares “errados”, se vestindo de forma “errada”, ou até mesmo existindo de forma “errada”. Parte do papel do Fórum é politizar as experiências individuais e coletivas, tirando do aspecto pessoal ou do “ponto de vista”, e fazendo uma leitura de um fenômeno histórico, sociológico, político, econômico, social, cultural, pra que as pessoas tenham esse entendimento mais amplo de que nem tudo que acontece de “ruim” ou de “bom” na vida das pessoas é “culpa” delas; de que existe toda uma estrutura social, cultural e econômica por trás que dificulta, impende, promove ou facilita o caminho das pessoas para que possam viver, ser quem são ou concretizar aquilo que almejam.
A atuação do Fórum é por essência colaborativa, e para além do simples direito à voz, ela se baseia no entendimento de que todo mundo tem algo a acrescentar, a construir. E um dos principais pilares que fortalecem esse processo é o método da Educação Popular, que nos coloca o desafio de romper a hierarquização dos saberes e nos posicionarmos no lugar do aprendizado constante: sempre teremos algo a aprender, a ensinar e a construir com o outro. E isso faz com que as pessoas se sintam de fato abertas; faz com que elas sintam que de fato terão suas contribuições acolhidas. Assim, acontece um processo muito colaborativo, em que as pessoas reconhecem que estão fazendo parte do que está sendo construído.
Outro papel importante do Fórum das Juventudes é a mobilização social, que é sempre tratada com muito afeto e criatividade, a fim de impactar as pessoas positivamente em relação à organização, às ideias e à importância das juventudes para toda a sociedade. Eu vejo que a mobilização é uma forma potente de produção de sentido do que é construído no Fórum. Também percebo que, para além da mobilização direta, há também um efeito secundário, que é o resultado das ações e discussões do Fórum expresso no discurso e na atuação dos jovens que passam por ele. Pude testemunhar em várias ocasiões uma fruição da criatividade artística atrelada às pautas do fórum, e essas expressões (poesias, músicas, artes visuais etc) fazem com que a incidência política transborde da nossa rede para outros contextos.
Essa centralidade dos processos criativos é muito importante, pois a criatividade é uma das formas de construção identitária das juventudes. Existe um potencial criativo muito grande nas interações e nas atividades que acontecem nessa fase da vida. Então, não faria muito sentido, né, falar de juventudes, com juventudes, sendo jovens, e tratar de um tema qualquer produzindo, algo careta como, sei lá, uma carta aberta de sete laudas.
E os processos são interessantíssimos exatamente por serem pulsantes, intuitivos, abertos. São um pulsar em prática. Por isso, naturalmente, as pessoas envolvidas experimentam muito. E o resultado tem vibração, calor, alegria, ludicidade. “Então, como a gente vai fazer um ranking dos políticos? Ah, vamos falar do futebol? Vamos! Nó, bola fora, gol, cartão vermelho”… Essa inventividade nascida em processos colaborativos e cheios de experimentação é uma marca registrada do Fórum das Juventudes e dá um gosto especial à participação.
Com relação ao modo como o Fórum incide junto aos públicos juvenis, o que sempre me impressionou foi a profundidade das experiências e das transformações geradas por elas. A mobilização com os jovens da Ocupação Dandara, por exemplo, foi muito marcante, pois aqueles jovens não tinham acesso à cidade, nem aos lugares formais e nem aos movimentos político-culturais de Belo Horizonte, como os saraus, duelos de MCs e demais espaços de encontros juvenis. Então, é relevante demais construir a produção do sentido da participação política com jovens que não têm isso em nenhum outro lugar, para os quais, muitas vezes, as únicas opções ao alcance são igreja, boteco, tráfico, cachorro, criança e polícia – o contexto deles é muito difícil. Me impressionou muito, durante o tempo em que a gente trabalhou com eles, a diferença que aquele processo fez, tanto nas vidas deles quanto nas nossas.
E é possível ver, de forma cristalina, o quanto o Fórum consegue incidir politicamente em contextos os mais variados. Ele foi o grande articulador político da ocupação que colocou o CRJ (Centro de Referência da Juventude) pra funcionar; membros e ex-membros do Fórum conseguiram chegar em expressivos lugares da política institucional: a Áurea, na Câmara dos Deputados; o Everton, na Secretaria de Segurança Pública de BH; outros exemplos são as trajetórias do Bim Oyoko e da Nívea Sabino, que se tornaram grandes lideranças na arte, na cultura e na mobilização, nas cidades deles e para além delas; houve ainda as candidaturas coletivas para os cargos de vereador em BH e outras cidades. Todas essas conquistas e o que elas reverberam tem um pouco da marca do Fórum das Juventudes e do que ele conseguiu proporcionar de encontros, trocas e incidência política para as juventudes.
Vejo que há ainda um papel histórico do Fórum como um lugar de afeto porque, mesmo que ele seja diverso do ponto de vista racial, ele promove um encontro de pessoas pretas que, no passado, foram privadas de tudo, até do mais simples afeto, em prol de uma exploração cruel do trabalho. E hoje, o espaço do Fórum promove uma re-conexão histórica com o afeto, proporciona uma amabilidade que foi negada a nossos ancestrais e que agora pode se expressar de diversas formas, mesmo quando há conflito, porque o conflito transforma. Ele impulsiona a transformação quando conseguimos lidar com ele, e acredito que o Fórum das Juventudes também seja esse espaço!
O Fórum tem, enfim, o afeto como um grande motor da ação. Seja pelo afeto no sentido da afetividade, do carinho, da disposição para o acolhimento, seja no sentido do engajamento emocional com as causas e as ações, da indignação, da inquietação.
Quando digo que o Fórum nos reconecta com o afeto que foi negado aos nossos ancestrais, me refiro ao processo de escravidão, em que ele foi completamente massacrado. A Ângela Davis fala algo assim: nós, populações pretas, fomos sequestradas, arrancadas dos nossos lugares, e colocadas num lugar que não era nosso, e inclusive misturadas. O afeto foi totalmente esfacelado pela própria condição de escravidão: você podia trabalhar o tanto que fosse que você teria a mesma condição, você ia comer a mesma coisa, ia viver no mesmo lugar, você ia usar a mesma roupa; além disso, ia ser violentado todos os dias. E aí, imagina, pegando a questão de gênero, como era pras mulheres, né? As mulheres tinham que amarrar os seus filhos a elas mesmas, porque elas não tinham onde colocá-los e elas tinham que trabalhar. E ai delas se parassem de trabalhar. E aí, quando esse trabalho não era feito da forma como o senhor branco achava que deveria ter sido feito, era o chicote comendo ali, né?
E eu tô falando tudo isso pra chegar no lugar do afeto. Porque as pessoas negras tiveram que aprender a não dar vazão aos seus afetos, porque isso é uma estratégia de sobrevivência que vem desde o período da escravidão. Porque você viu o seu irmão, a sua mãe, o seu pai, o seu marido, o seu filho apanhando, sendo submetido às situações mais desumanas possíveis, e se você fizesse alguma coisa você também seria violentado ou morto, ou então faria com que ele sentisse o que você estava sentindo, porque você seria a pessoa a apanhar.
Então, diante dessa situação, para as populações pretas, viver o afeto, e em todos os sentidos de afeto, dessa palavra “do que nos afeta”, seja de relacionamento amoroso, seja de uma conquista na vida, seja de uma frustração, de uma revolta, de uma tristeza… isso é muito difícil, porque historicamente nós fomos silenciadas nesse lugar. Então, por que é tão primoroso o Fórum ser um lugar afetuoso? Primeiro, porque ele dá vazão a algo que secularmente está proibido, está invisível. Ele não coloca o afeto não como uma sensação que passa, “toma uma água que passa”, né, “relaxa que passa”… Lá, acontece o contrário: você pode sim sentir o que você sente e expressar o que você sente.
E o Fórum também é transformador porque mostra que é possível construir laços de um jeito que não é baseado na hipocrisia do “somos todos amigos”. A gente sabe, inclusive, que a vida não é assim. Não somos todos amigos, já houve várias tretas e é isso mesmo: onde tiver gente vai ter treta, e tem que ter. Porque onde tem treta, tem mudança também, e mudança é muito importante. O importante é lidar com a treta com afetuosidade.
E tem a questão da corporeidade, que é outra preciosidade. Eu vejo que a corporeidade está muito relacionada a como os nossos corpos são identificados e se relacionam com o que está em volta deles. E aí, pensando os corpos juvenis negros como corpos em transição e como corpos muito estigmatizados, eu vejo que o trabalho do Fórum das Juventudes tem uma amplitude também da corporeidade, à medida em que constrói diversas ações coletivas nas quais ideias emancipatórias são a base para que esses corpos operem na sociedade de forma diferente do que se espera dentro da lógica do preconceito, e pra que, a partir da diferença em que esses corpos juvenis passam a operar, surjam resultados diferentes pras juventudes, no sentido do acesso a direitos e do acesso à dignidade de vida, mesmo.
Então, a atuação do Fórum está repleta de manifestações das corporeidades, que são construídas num trabalho coletivo feito com amorosidade, que é muito necessária quando o que se busca é tirar o alvo dos corpos da juventude preta e periférica. Afinal, se são corpos pretos que são vitimados cotidianamente pela necropolítica e pelo genocídio, a ação precisa partir deles. E aí o Fórum, com esse trabalho, movimenta os corpos negros de forma diferenciada na cidade, e na Região Metropolitana também, por proporcionar espaços de diálogo, espaços artístico-culturais, espaços de mobilização e de comunicação, que fazem com que esses corpos se movimentem e se manifestem na cidade de forma diferente, acreditando que essa movimentação diferenciada, realizada por esses corpos pretos e periféricos, pode trazer qualidade de vida e dignidade pras juventudes.
Por isso, eu considero que o trabalho intenso com a corporeidade é um elemento muito importante dos processos de mobilização do Fórum. E eu penso muito a corporeidade como uma complementação do movimento corporal, com as ações que o corpo, como um organismo sistêmico, faz: do pensamento, do toque, da fala, do movimento, do andar, do parar. E aí, eu vejo que toda essa organicidade sistêmica do corpo, realizada coletivamente com outros corpos, traz essa dinâmica muito diferente de incidência, a partir de uma relação com o espaço, com as pessoas, com as temáticas, com a cidade. E é isso que eu vejo. Então, pra mim, o Fórum das Juventudes tem um trabalho que passa pelo corpo como um todo, e por corpos coletivamente, em prol de corpos que são muito estigmatizados e muito vitimados, que são os corpos juvenis, sobretudo os da juventude preta de quebrada.