Bim Oyoko – Fabrício Tadeu de Paula

Me chamo Fabrício Tadeu de Paula. Sou mais conhecido como Bim Oyoko, que é meu nome político-cultural. Sou educador popular e trabalho com juventudes há mais de 10 anos. Hoje tenho 38 anos de idade e faço parte do coletivo de poesia marginal chamado “Nosso Sarau” e da banca de RAP chamada “Texas”, ambas criadas em Sarzedo, minha cidade.

Sou da periferia de um município periférico: Sarzedo. A cidade, que faz parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte, possui, hoje, pouco mais de 30 mil habitantes – e não tinha nem 10 mil habitantes quando me mudei pra lá, na época de emancipação do município, nos anos 1990. E nós (eu e minha família) somos de uma região bem afastada do centro, que é ocupado principalmente pelas famílias que fundaram a cidade. Sarzedo é uma cidade dormitório extremamente dependente economicamente da mineração. Arrisco dizer que 80% da população trabalha fora e que, dos poucos que trabalham no município, a maioria está ligada à mineração. Sarzedo é, ainda, um lugar com problemas de cidade grande, mas com cabeça de cidade de interior. Esse lugar em que fui criado é a periferia da periferia.

Desde a adolescência, por volta dos 12 anos de idade, eu andava de skate, frequentava movimentos de rock/punk e mais tarde de hip hop, que são vertentes da Cultura extremamente marginalizadas ao longo de suas histórias. Na época do rock, a gente se encontrava na praça, uma vez por mês, pra fazer um luau. Ali, reuníamos skatistas e jovens de várias vertentes do rock. 

De início, eu tinha uma banda de hardcore. Mas, com o tempo, fui percebendo – muito em função das letras de rap que escutava – que o movimento punk e o estilo hardcore, com os quais eu originalmente me identificava, eram muito brancos. A partir desse entendimento, fui migrando para o hip hop. Tem uma frase do Marcelo D2 que, para mim, exemplifica bem essa transição: “o problema não é escutar o rap, o problema é depois que você entende o que é ser rap e ser hip hop”.

A exclusão era rotina para alguém que veio do lugar que eu vim, vivendo nessa sociedade extremamente racista e desigual. Lembro que os primeiros movimentos culturais que organizamos em Sarzedo receberam um tratamento hostil do poder público. Foram criminalizados, diferentemente de outras manifestações culturais que aconteciam na cidade, como os rodeios e eventos de música sertaneja. Nós lutamos muito para construir uma pista de skate na cidade, que a prefeitura prometia constantemente mas não tirava do papel. Aí, assumimos o protagonismo e construímos por nós mesmos, com recursos próprios. E, na calada da noite, pessoas provavelmente ligadas à prefeitura foram lá e destruíram nossa pista, quebraram tudo! Esse é só um de vários exemplos de violência institucional que já enfrentamos por querer tornar o espaço público mais inclusivo.

Em junho de 2013, em meio à efervescência política nacional, nós puxamos manifestações em Sarzedo que tiveram amplo apoio e adesão da população. Foi um momento de forte organização coletiva e de discutir a cidade que queríamos, seus problemas e suas injustiças. Foram feitas várias reivindicações. Aquele foi um momento histórico para Sarzedo; nosso movimento foi tão forte que parou por um dia a mineração não só da cidade, mas de Itabirito também – vivenciamos naquele dia uma sensação épica e memorável. Só depois de toda aquela intensa e ampla mobilização, a prefeitura abriu um diálogo com o movimento hip hop.

O coletivo Nosso Sarau, que ajudei a fundar e no qual atuo desde o nascimento, em 2014, herda um pouco das conexões que fizemos e das lutas que travamos naquele período. Nossa criação, inspirada no Coletivoz, surgiu de um incômodo: já havíamos deixado de organizar eventos em diferentes ocasiões por falta de estrutura, mas sabíamos que precisávamos insistir. E percebemos que um sarau não precisava de nada, somente da gente e da nossa voz, era muito simples e poderia ser um processo de resistência! Então, decidimos criar um sarau das juventudes de Sarzedo. Quando realizamos os primeiros saraus, pudemos sentir de imediato a identificação da galera. Assim, aconteceu uma sequência de encontros, que desembocaram na criação desse coletivo que promove a ocupação do espaço público com poesia.

No sarau, nos reunimos num espaço que é aberto, que é para o público e que é para a gente estar. Ao ocupar as praças, o sarau permite uma reapropriação de um espaço urbano que historicamente nos expulsa.

Participar do Nosso Sarau é algo que me permite a experiência com a poesia, que é algo que sempre esteve presente na minha vida. Eu sempre gostei de escrever. Desde molequinho, eu gostava muito de escrever, me chamava muita atenção a ressonância das rimas. Quando tive a banda de rock, fui o letrista da banda. Ao conhecer e me envolver com o hip hop, fui me encantando cada vez mais pelo ritmo e pela poesia. 

A própria poesia tem um poder libertador, pois confere aos sujeitos silenciados o poder da fala. Dentro do sarau, eu posso falar o que quiser, desde que não violente outras pessoas, outras lutas, outros processos. No sarau, todos temos esse poder e esse direito de falar. Por outro lado, lá, eu posso falar uma vez e, se houver trezentas pessoas inscritas, eu vou me permitir escutar outras duzentas e noventa e nove. É um processo de diálogo e aprendizado constante, no qual podemos conhecer, ouvir e nos emocionar com a fala, tanto em sua forma quanto em sua mensagem. Toda vez que saio do sarau, sinto uma vontade enorme de escrever.

Quando começamos com os saraus, que fazíamos sempre no último domingo de cada mês, eu, a Carla, a Débora e o John, meus companheiros, muitas vezes ficávamos só os quatro durante duas horas declamando poesias para galera, porque as pessoas tinham vergonha e não se apresentavam. Foi assim durante três meses. No início, as pessoas chegavam e falavam: “eu tô com vergonha, eu quero só ver”. Depois de um tempo, elas começaram a falar assim: “eu sei que você trouxe o livro de poesia, eu quero pegar o livro, quero ler.” Aí, no outro dia, já falavam: “hoje eu escrevi uma poesia, eu queria ler a minha poesia”. Elas passaram por um processo de fortalecimento da autoestima e de conquista de autonomia, de se empoderar através da fala. E havia pessoas muito jovens, de 14, 15 e 16 anos, que foram se apropriando do espaço e começaram a declamar.

Esse processo de vencer a timidez foi algo pelo qual eu passei no Coletivoz e no Sarau Comum, eu ficava tão nervoso, tremia tanto, que me apelidaram de poeta terremoto. Por fim, acabou que isso me motivou a decorar meus textos e, assim, ter mais segurança e autoconfiança. 

Ao longo daquelas experiências iniciais, nós, poetas, fomos gradativamente amadurecendo e nos entendendo melhor como coletivo, e então começamos a articular outras coisas, como, por exemplo, reunir o movimento da juventude e pleitear uma cadeira no Conselho Municipal de Juventude, como representante da Cultura no município de Sarzedo.

Mas não era “só” poesia a nossa causa. Montamos também uma biblioteca comunitária, porque a biblioteca pública municipal havia sido fechada e acreditávamos que as pessoas tinham que ter o acesso à leitura assegurado. Porque a poesia que vem do sarau, essa poesia marginal, essa poesia periférica, ela levanta várias questões filosóficas, de luta de classe, de raça. Ela desperta na galera a vontade de entender tais questões, de pesquisar e de discutir. A biblioteca é um espaço importante nesse processo de pesquisa e construção do conhecimento.

Também realizávamos rodas de conversa nas quais eram discutidas as mais variadas questões: saúde mental, igualdade racial, feminismo, problemas da cidade etc. Geralmente, o ponto de partida era um tema que as pessoas haviam escutado nas poesias. Embora sempre explicássemos que não tínhamos formação acadêmica ou um domínio muito aprofundado de certas temáticas, a galera nos tinha como referência e sempre nos esforçamos para fomentar o diálogo e aprender juntos. Fazíamos pesquisa o mês inteiro para elevar o nível da discussão, até que conseguimos levar esse projeto de oficina de poesia marginal para uma escola da região e lá me tornei arte-educador. Isso aconteceu em 2014, logo após o lançamento do Slam Clube da Luta em BH. Mobilizamos alunos de todas as turmas para participarem do slam, um feito inédito na escola.

Realizamos dezenas de atividades que envolveram moradores do Barreiro, de Sarzedo, Ibirité, e gradativamente percebemos uma mudança de postura da população que a princípio nos julgava como “vagabundos”. Depois de conhecer de perto nossas atividades e propostas, hoje, os moradores nos reconhecem como lideranças e agentes de cultura na região. Podemos dizer isso do poder público também, mas este, em específico, faz o mínimo apenas, e só porque já não pode mais ignorar nossa existência. Por exemplo: hoje existe um espaço no bairro Santa Cecília que é destinado ao público do skate, do slackline, do basquete, do hip hop. Essa é uma importante conquista, mas ainda é preciso muita luta, porque o espaço está bastante precarizado. Imagino que o pensamento dos agentes do poder público seja mais ou menos assim: “eu faço o mínimo para falar que eu reconheci vocês, já que não posso mais criminalizar vocês tanto assim, mas não vou dar apoio total”.

Às vezes, não tem nem luz no espaço. Precisamos brigar bastante por questões estruturais, como lâmpadas e pequenos reparos que são negligenciados, sob o pretexto de que não cuidamos bem do espaço – o que é uma mentira, afinal, nós somos os guardiões e os promotores daquele espaço. Quando algo não funciona e vamos investigar, nos deparamos com problemas como uma fiação que foi instalada errada, mas o poder público nunca admite os próprios erros. Percebo uma certa negligência por parte dos órgãos públicos em relação a essas áreas periféricas e às manifestações culturais marginalizadas. 

Fui parar no Fórum das Juventudes porque o Nosso Sarau tinha, e ainda tem, em todas essas atividades que mencionei, uma proximidade muito forte com os movimentos socioculturais do Barreiro, como o coletivo Cabeça Ativa e o Movimenta Barreiro. Incentivados por eles, o Nosso Sarau participou dos processos formativos do Fórum das Juventudes em 2015, e isso nos trouxe um amadurecimento sobre temas importantes, como o feminismo, o genocídio da população negra, a ocupação de espaços públicos, a criminalização das juventudes e a própria política.

O Nosso Sarau é um exemplo do quanto as atividades formativas são essenciais para a multiplicação do trabalho do Fórum das Juventudes. Participar das formações do Fórum foi fundamental para o nosso coletivo. Com o Fórum, pautas que intuíamos ou tratávamos no improviso se consolidaram: ele nos deu referências. O Fórum tem esse papel formativo tão forte porque os processos de construção participativa do conhecimento estão no centro de tudo.

Além disso, o Fórum foi importante para nos conectar com outros coletivos que atuam em causas as mais variadas. E o interessante é que é sempre uma conexão a partir de uma perspectiva emancipatória, e não paternalista. Quando queremos discutir ou nos aprofundar em uma determinada questão, podemos procurar diretamente os coletivos que tratam dessa questão, sem precisar passar pelo comitê gestor, pela secretaria executiva ou qualquer outra instância do Fórum. Isso tem ampliado demais nossas conexões e possibilidades de atuação. Essa rede que o Fórum reúne nos dá a sensação de acolhimento, de que não estamos sozinhos – e de que, dessa forma, podemos aprender e crescer juntos, nos apropriando de metodologias, dinâmicas e processos formativos para diferentes públicos e temáticas.

O Fórum funciona como rede e, apesar disso, recebe muitas críticas sobre sua presença ou não-presença em movimento X ou Y. Entretanto, as pessoas precisam compreender que mesmo que a instância mais institucional – a secretaria executiva – não esteja, o Coletivo Terra Firme está, a Batalha da Rocha está, a AIC está e, portanto, a rede de entidades e coletivos que compõem o Fórum está presente. Por isso, discordo quando dizem que o Fórum está numa bolha: não é nada disso! O Fórum é uma rede composta por vários coletivos que possuem uma atuação bastante capilarizada e incisiva na sociedade. Apesar de estarmos num momento fascista, a disputa que o Fórum das Juventudes faz é muito importante, e ela é construída, de verdade, pela rede como um todo.

Vivemos um momento histórico muito difícil e, por mais que os resultados ou a própria luta se dê de forma lenta, ela é extremamente necessária e consegue sim incidir e reverberar de fato na sociedade. Veja bem, hoje, a igreja evangélica no Brasil, por exemplo, tem propagado intolerâncias dos mais variados tipos, muito em função da sua aproximação com o bolsonarismo. No Fórum, temos muitos evangélicos, e não é isso que vemos na ação dessas pessoas – possivelmente, porque há uma perspectiva de compreensão das religiões a partir da ótica da diversidade que elas vivem concretamente no Fórum, e isso é transformador de percepções e atitudes. Assim, o Fórum, querendo ou não, consegue incidir junto a esse público e faz a diferença na disputa de narrativas. Eu mesmo, na minha adolescência fui bastante machista e homofóbico, mas ao longo de toda essa trajetória, dessa aproximação das lutas das quais o Fórum também fez parte, fui me reconstruindo uma pessoa melhor e mais aberta às diferenças.

E acho incrível como as discussões do Fórum reverberam na produção artística de seus membros – e vice-versa. Acredito que uma das principais potências dessa geração que ocupa o Fórum das Juventudes atualmente é essa conexão com as artes (e na poesia isso fica bastante evidente), que tem dado a cara do que é o Fórum hoje. A arte-cultura já faz parte do nosso DNA e do nosso modo de fazer política.

É um modo de fazer baseado em processos criativos: a gente cria a nossa estética pra falar das violências e das opressões que vivemos. O Fórum tem juventudes ligadas a muitas linguagens: poesia, sarau, slam, música, grafite, dança, produção audiovisual… Já seria muito legal só juntar tudo isso e criar trocas, e fazemos isso, mas o que é incrível é que a gente cria uma ação política que vem da criação artística, e com toda essa diversidade. Não é a ideia de uma performance artística pra “ilustrar” ou fechar algum evento. Não. A arte é o fio condutor de tudo.

Quando a gente se junta pra construir coletivamente as propostas das nossas ações, temos as linguagens artísticas como esse fio condutor, e vamos desenvolvendo algo que junta essas linguagens e que trabalha com o tema também. Assim, o que os e as jovens falam de suas experiências, as músicas, poesias e outras criações que trazem… tudo isso é conhecimento. 

Pra mim, tem uma coisa muito especial nisso. Uma poesia minha que fale de uma violência que eu tenha vivido vem com dor, com emoção, com desespero às vezes, vem o que está engasgado; mas também às vezes vem alegria, vem humor. Estão ali o que eu vivo, o problema que a juventude negra como um todo vive, e tem um pouco do meu jeito também. E nós trocamos muito a partir da arte que a gente faz. E então você passa a conhecer aquela pessoa e aquele grupo por um caminho que passa pela arte, pela sensibilidade e pela emoção.

Trabalhamos as questões a partir da arte, da sensibilidade, do que nos toca, do que nos move. E esses processos – que a gente vem chamando de artivismo (arte + ativismo) – têm uma grande potência como prática concreta de participação e emancipação.

Assim, nossa luta passa também pelo nosso corpo – as linguagens artísticas das juventudes sempre têm uma poesia que passa pelo corpo. E não tem nada mais político que o corpo. Meu corpo é político: sou preto. Meu corpo já vem com um alvo, por conta dele eu tive e tenho que sobreviver a muitas estatísticas. E eu não quero só sobreviver. Eu quero a vida. Querer a leveza, querer o lúdico, também é político – e defender isso é mais uma luta.

O João Paiva diz que somos mais que resistência: somos rexistência. Nossa luta não é só cair e se levantar. A gente se reinventa, vou me aprendendo o tempo todo; a gente é construção, desconstrução, reconstrução.

Vejo que a arte e o afeto nos legitimam. Nos legitimam uns em relação aos outros e legitimam o Fórum na cidade. A cidade nos reconhece pela potência das nossas intervenções artísticas – pelos Okupas, que são um grande mosaico de arte das juventudes; pelas intervenções que fazemos nos espaços institucionais, que quase sempre marcam um posicionamento político, mas que vai junto com uma poesia recitada, uma performance, uma intervenção visual, um sarau.

Embora o Fórum trate de temas muito sensíveis, complexos e dolorosos, ele consegue tratar um turbilhão de questões duras de uma forma leve, para podermos inclusive compreendê-las melhor e suportá-las. Afinal, além de um lugar de formação política, o Fórum também é um lugar de acolhimento. Outra das principais potências dessa rede é conseguir “traduzir” discussões temáticas, que muitas vezes chegam em uma linguagem acadêmica, para uma linguagem mais popular e comum aos jovens. Além disso, se esforça para acompanhar as tendências e linguagens das novas gerações, se comunicando também através das redes sociais como Instagram e TikTok.

Essa conexão com as linguagens e modos de expressão e troca dos jovens é fundamental. Eu mesmo, enquanto educador, preciso ficar sempre ligado nessas redes para saber o que os jovens estão falando. Percebo que a comunicação pelas redes tem ficado cada vez mais efêmera, principalmente agora com o advento e a popularização do formato stories (que apagam automaticamente em 24h). Percebo que os jovens usam da efemeridade destas ferramentas para compartilhar suas dores com seus interlocutores, sem precisar que elas fiquem registradas ali pra sempre; e de forma que não prejudique a imagem “mágica” das redes sociais, em que todo mundo aparenta “ser feliz o tempo todo”. E, nesse processo, vou aprendendo com os jovens e os conhecendo mais.

O Fórum tem também uma presença acolhedora que é muito necessária porque, embora tenhamos algum reconhecimento público e institucional, nós ainda somos agentes periféricos e estamos sob variados graus de risco.

Por exemplo: no período em que acontecia o 8º Okupa, que mobilizou muito os coletivos de Sarzedo, eu e minha família sofremos ameaças, relacionadas ao próprio evento final do Okupa e a outros eventos que os coletivos juvenis realizavam, à época, na região, que incomodavam segmentos conservadores. Após muito estresse, nós dos coletivos acabamos não arredando pé em relação às atividades culturais que realizávamos e ao Okupa, mas ainda éramos ameaçados e minha mãe ficou muito amedrontada com toda a situação. Foi um momento muito difícil, mas os coletivos do Fórum nos abraçaram, e isso nos deu algum resguardo. Se eu estivesse completamente sozinho, não sei o que poderia ter acontecido.

Há casos que, infelizmente, têm o pior dos desfechos: mesmo com toda uma mobilização da rede de ativistas para tentar proteger um ou uma jovem sob ameaça, acontecem violências e assassinatos, as ameaças se concretizam.

Acontecem, enfim, situações horríveis, em que todos os nossos esforços não são suficientes para proteger. Mas há outras em que conseguimos diminuir as vulnerabilidades e os riscos. O importante, acredito, é que buscamos cuidar uns dos outros, sempre.

No cotidiano de cuidados que circulam entre nós, criamos algo maior: um laço de afeto. Somos uma rede afetuosa e de cuidado. Isso em si é uma afirmação política frente a uma sociedade que não tem empatia e nega qualquer afeto ou consideração pela vida dos jovens pretos.

Por conta de episódios de violência graves ocorridos com pessoas da rede e da nossa própria convivência cotidiana com a violência, que por si só já é uma luta, precisamos ter atenção redobrada à nossa saúde mental. Sabemos que não podemos resolver todos os problemas, violências e desafios do mundo, mas conseguimos nos fortalecer coletivamente para enfrentá-los juntos, também pensando em novos caminhos e em possibilidades para trazer transformações reais para nossas vidas, para a vida dos jovens e para os nossos territórios.

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