— Luto: um genocídio
Inúmeras pesquisas e anuários sobre a violência no Brasil mostram dados alarmantes, que apontam para o homicídio como a principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Ao fazer o recorte de raça, tais pesquisas constatam situações de extrema gravidade, em que jovens pretos e pardos são a maioria dos assassinados, e ainda pior: são a maioria das vítimas fatais das intervenções policiais no país.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 mostram que, dentre todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2021, 62% foram homens pretos e pardos na faixa etária entre 12 e 29 anos. A publicação revela, ainda, um recorte racial para o total de assassinatos no país naquele ano: foram 47.503 assassinatos no país, sendo 50% das vítimas pessoas jovens (com idade entre 12 e 29 anos) e 77,9% das vítimas pessoas negras. São mais de 18,5 mil jovens negros assassinados em um ano – um a cada 28 minutos.
Tais estatísticas se repetem ano após ano, indicando uma ação sistemática de extermínio da juventude negra em virtude da extrema desigualdade racial no que diz respeito à violência letal e às políticas de segurança pública no país. Ou seja, os números ilustram a configuração de um genocídio contra a população brasileira de jovens pretos e pardos.
O genocídio da juventude negra no Brasil é, sem dúvidas, uma tragédia forjada na e pela estrutura de exclusão do país, em que as desigualdades sociais são extremamente racializadas. A população negra vivencia uma negação sistemática de seus direitos de cidadania, o que a expõe a vulnerabilidades diversas e a subjuga ao necropoder. Portanto, a ação para estancar o genocídio da juventude negra no país é mais do que urgente e isso se faz por meio da luta por justiça social, que reivindica intervenções radicais na política de segurança pública e medidas efetivas de enfrentamento ao racismo estrutural do país. A luta é imensa, e precisamos todas e todos sermos aliados.
“Combinaram de nos matar, mas combinamos de não morrer”. A célebre frase de Conceição Evaristo resume o espírito de resistência que anima as lutas, que são lideradas por redes de juventudes e de mulheres que tiveram os filhos assassinados.