Zerê – Leandro Pereira da Silva

Em breve

Eu conheci o Fórum das Juventudes por meio de ações culturais em Ibirité, do coletivo Terra Firme, grupo ao qual eu cheguei por uma pesquisa própria: estava muito interessado nos saraus de poesia e só conhecia a galera de São Paulo nas redes sociais. Já tinha visto coisas de diversos slams, do Slam Resistência e até do Sarau Cooperifa, mas não sabia que a galera se articulava para fazer o movimento acontecer aqui. Na época, em busca por esses coletivos no Facebook, cheguei até o coletivo Terra Firme. Acabei colando lá com o Russo e com a Denise. Foi amor à primeira vista pelo sarau. Apaixonei e já comecei. Eu comparecia a todos os saraus que eles realizavam. Em uma dessas ocasiões, o Russo me convidou para conhecer o espaço do coletivo Terra Firme, a casa dele. Junto do convite, ele falou que haveria uma articulação com o pessoal do Fórum e nos chamou para participar. Eu não recordo se a reunião já era dos preparativos para o sétimo Okupa, ou se eram ações anteriores. Acho que isso foi por volta de 2017, quando o Okupa foi realizado no Barreiro.

Em paralelo aos preparativos do Okupa, havia outras atividades que o coletivo Terra Firme estava fazendo na época, em parceria com a Oficina de Imagens. Então, como estava tudo muito junto ali, sempre tinha a presença de uma galera do Fórum e, assim, eu comecei a participar dessas ações. Mas foi durante o processo de construção do sétimo Okupa que eu comecei a entrar efetivamente e me envolver mais com o Fórum, a participar das conversas, das rodas de debate.

Participei de três Okupas: esse do Barreiro, em 2017; depois em Ibirité, ao lado da sede do Terra Firme, em 2018; e outro na Ocupação Izidora, em 2019. Então, foi na virada de 2016 para 2017 que eu entrei para o coletivo, comecei a colar nos rolês e conheci o Fórum. Meu ativismo político surgiu dentro do Fórum. Todo o conhecimento que eu trago, que eu carrego, brotou junto com o Fórum e nessa caminhada com o Terra Firme.

Como mencionei, o encontro com o Terra Firme ocorreu em uma pesquisa motivada por esse meu interesse de poeta. Até então, eu não tinha conexão com coletivos de poesia. Eu escrevo poesia desde muito cedo: 12, 13 anos de idade, quando estava no 6º ano mais ou menos. Sempre gostei muito. Era um garotinho apaixonado pelas poesias românticas, um gosto que surgiu por acaso. Comecei a escrever daquela forma, que mudou quando fui para Ibirité – antes eu morava no Cabana –, no ciclo final do ensino fundamental (sétimo, oitavo e nono anos). No período entre o ensino fundamental e o ensino médio, conheci essa outra poesia, a poesia de luta, instigadora. Na verdade, foi um insight que eu tive. Sempre tem essa viradinha de chave, principalmente quando você é jovem e preto, quer dizer, você percebe que é preto e isso tem um profundo impacto social na sua vida. Depois da chacina que aconteceu em 2016, no Rio, quando aqueles cinco jovens foram assassinados pela polícia na Candelária, eu escrevi um poema sobre aquilo. Eu lembro que levei esse poema no primeiro dia em que eu fui ao sarau e, assim, virou essa chave e comecei a conhecer essa poesia de debate. Foi dessa forma também que eu entrei nos movimentos sociais: tudo ao mesmo tempo.

O Fórum possui um grande papel formativo. Além da minha formação política e educacional, através do Fórum criei uma perspectiva de vida também. Até os meus 16, 17, 18 anos, minha perspectiva de vida era mínima, quase nenhuma. Eu não sabia realmente para onde ir, o que eu iria fazer da minha existência. Foi quando entrei no Fórum que consegui perceber meus potenciais. O Fórum traz muito isso, esse papel formativo pra essas juventudes – você pode perguntar que a resposta vai ser unânime. Você pode ver que toda a galera que está ocupando espaços públicos e ainda lutando por direitos ligados às juventudes participou do Fórum.

Eu amo as atividades de multiplicação do Fórum: plantar um negocinho aqui, outro ali; levar ações para a quebrada. Esse potencial de multiplicar pela formação é minha aposta. Inclusive, sinto muita falta disso. Não estou mais fazendo parte de nenhum coletivo e nem sei se eu tenho como retomar isso, em função de acúmulo de trabalhos que vão chegando. Mas sei que exercitar esse papel multiplicador é potencializador demais.

De todos os processos que aprendemos e conhecemos junto do Terra Firme e do Fórum das Juventudes, o que eu mais me fez sentir esse potencial multiplicador foi uma ação que realizamos numas escolas em Ibirité, em parceria com a Prefeitura Municipal. Chegamos naquela juventude com o mesmo discurso com que tinham chegado em nós, que era “Potencialize a sua atuação, cara. Vai lá e faz com a ferramenta que vocês têm, o processo de começar é assim mesmo”. Esse incentivo era muito em um campo cultural, pois as juventudes de Ibirité não tinham para onde ir, ficavam presas dentro daquela cidade, que é uma cidade dormitório; na qual, à noite, não acontecia nada. Por esse motivo, a galera toda migrava para a região do Barreiro para curtir seu rolê. Mas, a partir da nossa intervenção, os jovens de Ibirité começaram a construir um rolê local. Eu fiquei feliz demais com isso. Quando olho em retrospecto, vejo que a galera com a qual conversávamos naquela época dessas escolas criou três batalhas de MC e dois saraus. Hoje, a efervescência de eventos de rua em Ibirité é muito grande e agora percebo que essa sementinha multiplicadora vai sendo passada. Isso é potencializador demais.

Esse processo multiplicador gera um impacto que a própria sociedade vê. Infelizmente, o que ouvimos do senso comum em relação ao nosso trabalho são afirmações do tipo: “legais essas ações que afastam os jovens da criminalidade”. As pessoas adoram isso, a sociedade vê e fala “nossa!”. É a primeira reação de quem está ao redor, é a primeira forma de impacto junto a um público mais amplo. Mas marca: as pessoas comentam e entendem como algo positivo. Isso tem valor. Ainda mais se consideramos que existe muito preconceito, principalmente quando falamos de rap, de funk, de cultura marginalizada. 

Por outro lado, o que eu acho mais enriquecedor é que, a partir da participação nos processos, essa galera jovem começa a se enxergar como sujeito político. Quando esse jovem está numa roda e vê que tem 20, 50 pessoas escutando, ele começa a usar essas batalhas, esses saraus, esse rolê de MC, como espaços para mandar diversos recados. Cria-se um contexto político muito forte para aquelas juventudes.

Na minha vivência no Fórum, a primeira grande experiência significativa foi ver o Okupa acontecer. Foi uma loucura, porque estávamos muito acostumados na época com os eventos de bairro. O sarau tinha cinco pessoas – era uma mobilização pequena, muito intimista. Já o Okupa abre muito o leque, chama muito as pessoas. Foi no Okupa a primeira vez que me apresentei artisticamente para um grupo grande. Aquela foi a primeira grande porrada que tomei: entender o leque gigantesco que é o Fórum das Juventudes. Depois, fui entrando mais a fundo e entendendo a história do Fórum, a atuação em questões importantes, com o CRJ. Na época, eu até conhecia a ocupação, cheguei a frequentá-la para conversar com a galera, mas não sabia nada da história por trás. Sabia que estavam ocupando o CRJ para defender aquele espaço para os jovens, mas nada muito além disso. Então, a partir do entendimento que construí em relação ao processo do CRJ, descobri uma outra estrutura do Fórum, uma estrutura política pesadíssima. Esse foi o outro grande baque que eu tomei. 

Em 2016, participei com o Russo das campanhas para as eleições de vereadores e prefeitos. Ele me via desacreditado de qualquer sistema político, qualquer movimentação desse tipo. Acompanhávamos de longe o mandato da Áurea, mas estávamos focados no nosso território em Ibirité. Naquele processo, percebi também o alcance que o Fórum pode ter (sempre que falo das ações do Fórum e dos coletivos que o compõem, eu não consigo distinguir essas duas esferas). Constantemente, destaco isso para os meninos: qualquer movimentação na praça é uma construção política gigantesca. Eu vi isso acontecer na prática: nós, bebezinhos, fazendo sarau no começo, até ocupar um espaço dentro de um cargo público, provocando uma movimentação gigantesca em Ibirité por meio do coletivo Terra Firme. Essa grande movimentação de estrutura foi o que mais me impactou. 

Os encontros formativos também sempre foram marcantes: muito enriquecedores, de todas as formas possíveis. Eu participei de encontros imersivos, fui no que ocorreu em Mário Campos durante um final de semana em 2018, antes da construção da Plataforma Baculejo. Participei, em 2019, dos encontros imersivos que aconteceram no Barreiro, na Escola Sindical, que foram de concepção do décimo Okupa. Os outros foram encontros mais localizados, como os que aconteceram no território do Terra Firme, em Ibirité. Era um leque de atividades tão grande que, na época, eu pensava que todo final de semana tinha uma atividade do Fórum para ir. Era uma efervescência muito grande.

O encontro imersivo de 2018 foi um momento muito forte. Lá, entrei em contato com debates que não faziam parte do meu repertório na época – discussões que eu não conhecia em profundidade. O Fórum sempre interseccionaliza os debates e as lutas. Isso, para mim, foi marcante naquele encontro. A luta de gênero não era uma questão que eu pautava na minha mente; não passava por mim, eu não pensava sobre isso. Mas lá, na imersão, o pessoal da Academia Transliterária trouxe esse debate de uma forma que emocionou e inflamou todo mundo. Lembro que passamos a tarde inteira chorando e debatendo essas questões e foi o que me fez entender a interseccionalidade dessas lutas, perceber que essas violências são muito semelhantes e que o autor delas é geralmente o Estado, um sistema único. Estamos todos abarcados no meio dessa chuva de violências, que vêm por todos os lados. Esse foi um momento em que eu me emocionei para caramba, lembro de chorar no meio de todo mundo por algo que eu nunca imaginei que poderia me tocar tanto. A partir dali, compreendi melhor a questão da interseccionalidade, de não tornar a luta uma só, mas entender que ela é multiplayer e que precisamos estar em todos os cantos dela dentro do nosso posicionamento. Lembro também de quando a Áurea foi, acho que eu nunca tinha visto ela pessoalmente. Era um domingo de manhã, acho que no último dia. Ela foi conversar conosco e foi uma loucura, enriquecedor demais, incrível demais. 

Em relação às pautas do Fórum, acho que todas são riquíssimas, mas o debate sobre guerra às drogas é o que mais me toca, mais me atinge e que eu acho indispensável nas discussões que propomos. É uma coisa sobre a qual eu já refletia há muito tempo, porque para mim é absurdo quando as pessoas não conseguem enxergar que existe um plano de genocídio imposto, que é a guerra às drogas. Lembro que, antes do encontro de 2018, eu também nunca tinha ouvido falar sobre segurança cidadã, sobre os tipos de segurança pública. Na minha concepção, éramos para sempre reféns da segurança do Estado, não havia outra alternativa. Tal qual aquela piada que o povo fala: “Se você é anti-polícia, vai chamar quem? Vai chamar o Batman?”. Diante disso, eu pensava que realmente não tinha como viver sem a polícia na forma como a conhecemos.

Além disso, o Fórum mobiliza de forma muito sensível para putas difíceis, como o genocídio da juventude negra. Eu sou um trabalhador da arte e da cultura, sempre vou defender meu lado, mas acho que as pessoas já sentiram isso. Não é difícil você ir em um sarau ou no slam e vê-las realmente tocadas, sentidas com o que ouviram a partir de alguma manifestação artística. Isso, inclusive, aconteceu comigo no encontro imersivo: as meninas fizeram um Teatro do Oprimido, que me pegou de um jeito diferente, muito mais do que estatísticas e números. Quando traz jovens, o Fórum traz as linguagens artísticas deles para atingir outros jovens, que passam por experiências semelhantes. Para alcançar cada vez mais pessoas, o Fórum faz uma aposta no artístico-cultural: busca sensibilizar a partir dessas linguagens do sensível – até porque, como sabemos números não comovem, eles só servem para comprovar algo. Uma vizinha minha fala que quem gosta de número é só o Estado e o cientista social. Esses são os lugares em que os números chegam, em que eles tocam. Mas a população massiva, o tiozinho da favela que em 2018 voltou em Bolsonaro, temos que atingir de uma outra forma, e eu acredito que a expressão artística é um bom caminho. Às vezes, essas intervenções são viscerais, violentas. Penso que, em certos momentos, ela precisa ser mesmo, violenta e não passiva. Muitas pessoas acham que há passividade nessa luta, mas isso não existe. Acredito que, de forma contundente e por vezes visceral, conseguimos atingir bem mais pessoas, e com mais intensidade. Nesse sentido, eu não consigo separar essas duas coisas: quando vou fazer reuniões, por mais institucionalizadas que elas sejam, se tem um espaço, eu recito um poema, mesmo que não seja o meu, mas que sirva para fazer refletir, para sensibilizar de outra forma para a causa em pauta.

As proposições do Fórum partem muito da rede. Por exemplo, pelo que lembro das últimas edições do Okupa, das quais eu consegui participar mais, propusemos elementos para debate, mas quem construiu todos os processos foram as juventudes. As primeiras formações do Okupa são momentos de escuta, atividades para pensar o que está pegando na quebrada. Fazemos uma chuva de ideias, de palavras que chegam quando instigamos os participantes a pensar em coisas como a sua experiência de juventude, no tempo presente. Nesse processo, vamos identificando e linkando as análises e as palavras que mais aparecem e, assim, vai se construindo cada ação.

No último Okupa, por exemplo, houve processos formativos para entendermos o que estávamos debatendo. A temática central era ocupação e, nas discussões, conversamos sobre o que é ocupar, o direito de ocupar e a ideia de ocupar os direitos. 

É desse modo que cada Okupa se desenvolve: realizamos encontros imersivos, que são momentos que combinam processos formativos e ações artístico-culturais, que servem como gatilho para que as juventudes consigam planejar e traçar intervenções para o dia do evento final do Okupa. No final, reunimos uma equipe com os jovens que vão bolar a programação do evento, de forma a dividir as tarefas: o coletivo que trabalha com música fica responsável por isso, o outro coletivo da ocupação faz uma intervenção… e assim vamos planejando o dia. Algumas propostas são fruto de processos experimentais que acontecem ao longo dos encontros formativos. Por exemplo, no nono Okupa, eu, a Natana e o Saulinho oferecemos uma formação de escrita criativa para os jovens desenvolverem um poema que chamamos de Frankenstein, em que cada um construía um verso e trabalhava uma questão. Os jovens do encontro fizeram esse poema e, no dia do evento final, realizaram uma intervenção em que o recitaram. Ou seja, os encontros também geram produtos para o Okupa.

Nos encontros, também são levantados artistas locais para as intervenções. No ano do tema ocupação, como estávamos em um território muito político, pensamos em quais artistas estavam alinhados com essa pauta. Assim, chegamos no Guima no Izidora e a galera do rap fez uma batalha, que já acontecia na pracinha de lá, então era algo do território deles. Em Ibirité, foi a mesma coisa: convidamos artistas locais e artistas da rede do Fórum para se apresentarem.

Além disso, na minha experiência, o Fórum se destaca de outras organizações das quais participei por conta do afeto. No ensino médio, eu já era muito envolvido em coletivos políticos da cidade e também atuava na escola, com a constituição do grêmio. Esses espaços tinham como característica um formato institucionalizado, sem a proximidade afetiva que existe no Fórum. Isso ocorre no Fórum porque nos conhecemos dos rolês, então acredito que se cria essa identificação mútua por frequentarmos os mesmos espaços. Quer dizer, mesmo que seja um daqui do Barreiro e outro lá de Venda Nova, construímos o mesmo rolê. Então, o Fórum faz esse papel de polvo, de juntar todos. A identificação é mútua e o afeto também. 

Na verdade, lembro dessa questão do afeto desde o coletivo Terra Firme. Nós éramos muito afetuosos e, por conta disso, a galera começou a nos chamar de gangsta fofinho, porque nos vestíamos igual a um gangsta, mas no rolê ficávamos abraçando e beijando uns aos outros. Essa era uma característica muito nossa, muito própria de todos nós.

Vivemos um momento muito especial, entre 2016 e 2018, com o Fórum das Juventudes. Trazíamos sempre o debate do afeto, principalmente falando de corpos pretos, para os quais a construção do afeto é muito tardia (isso é, quando acontece). Na nossa experiência familiar, esse aspecto é muito complicado. Eu tenho histórias tristíssimas de negação de afeto dos corpos que são pretos; histórias bizarras, mesmo. Agora, estamos retomando esse lugar que também é nosso, principalmente do homem cis preto, para quem falar de afeto é muito difícil. O favelado também precisa manter certa pose, certo distanciamento: é uma estratégia de sobrevivência. Mas estamos retomando demais esse lugar e o Fórum é um espaço que experimenta muito isso conosco. Muito, muito mesmo.

Esses processos de experimentação que o Fórum faz nas ações educativas é tremendo demais e não se vê em outros lugares. Isso também gera uma afetividade e uma proximidade muito grandes. Não tem nada pronto, tudo é construído na hora, somos protagonistas. Quando há um espaço que tem essa liberdade, é uma construção muito rica. Estamos acostumados com a escola, o professor falando o tempo todo e você só baixando a cabeça e concordando. No Fórum, o processo é ao contrário, às vezes até intimidador de tão aberto. Os jovens chegam completamente retraídos nas suas próprias ideias e, quando encontram um espaço que tem essa acolhida da sua fala, é muito foda.

Ao mesmo tempo, mobilizar essa juventude e fazer com que ela se sinta protagonista desse rolê é um desafio. Percebi isso depois que entrei na gestão do Fórum. Isso acontece porque estamos muito acostumados com tudo dado, pronto, o que vem de cima. Aquela educação bancária, um negócio que é martelado sobre você. Então, essas construções são muito mais difíceis. Além disso, hoje em dia, toda a estrutura política, social e econômica destrói o potencial da juventude em se aprofundar nos debates. Por exemplo, não estamos conseguindo reunir com jovens porque estão todos trabalhando 24/7, tá todo mundo refém de subempregos e vivendo nessa correria, nesse marasmo terrível. Isso afasta muito as juventudes quando vamos propor algum debate, chamar para discutir alguma questão. Eu acho que esses são os maiores desafios que temos encontrado no momento.

Outra questão séria é que o debate político, hoje, dá espaço para muita estupidez, principalmente em conteúdos (como podcasts, vídeos e memes), infestados de falácias e preconceitos, que circulam massivamente nas redes. Essa abertura generalizada para a estupidez torna os jovens muito reféns. No fundo, é o debate da liberdade que a juventude está procurando, então isso é apropriado para cuspir um monte de merda para cima dessa juventude. Isso interfere muito na esfera do debate.

Ainda sobre desafios, a interface com outros segmentos traz dificuldades para o protagonismo da juventude. Eu acho que vivo isso quando o Fórum vai em certos espaços. A voz ativa do jovem é sempre um cantinho, no finalzinho, os últimos dez minutos de fala que sobraram. Ainda acontece muito isso, essa falta de reconhecimento dessa luta. Há sempre um pensamento que a juventude não quer nada com nada. Quer dizer: estão procurando um espaço para fazer nada com nada. É um apagamento da nossa força, do debate que construímos. Mas em outras esferas, no campo mais progressista e socialista com o qual temos contato, o debate é muito enriquecedor. Nesses segmentos sempre somos convidados, principalmente para em esferas políticas. Já fomos chamados várias vezes em diversas audiências, comissões da Câmara dos Vereadores e da Câmara dos Deputados para levar falas e debates que o Fórum tem construído. Somos muito reconhecidos, nesses espaços progressistas, como referências. Acho que é uma galera que passou por essa experiência. Não que tenham participado do Fórum em si, mas são pessoas que, na juventude, estiveram nesse lugar de construir o protagonismo. Existe também a valorização da própria história do Fórum hoje em dia. Não tem como levantar o debate da luta e das Juventudes em BH e Região Metropolitana sem citar o Fórum das Juventudes. Não tem como. Essas coisas caminham e foram construídas muito juntas. Até em vitórias no campo de políticas públicas em BH é possível ver que há um rastro do Fórum por ali. Então somos muito respeitados por isso também.

Atrair a cidade para os eventos do Fórum é outro tipo de desafio, porque depende do território. Por exemplo, em Ibirité, foi muito difícil. A cidade é dormitório, majoritariamente cristã evangélica e vota no Bolsonaro. Essa população se afasta muito das juventudes mais politizadas, pelo menos nos momentos e nos espaços recreativos públicos. Por outro lado, por exemplo, somos muito bem recebidos pelas escolas. Há também uma organização muito interna e muito afetiva para que as ações do Fórum aconteçam. A galera sabe que não pode dar beó no evento. Uma situação clássica, por exemplo, é ter nas batalhas de MC dentro dos bairros a “galera do chá”. Então, nos eventos do Fórum, o MC sempre anuncia “Galera do chá: o chá é do outro lado da rua, longe da galera que tá na batalha. Vamos respeitar o espaço”. E assim o evento acontece: a galera fica do outro lado da rua, fuma, volta e todo mundo curte suave.

Eu fico satisfeito demais de fazer parte dessa história. Acho uma grande responsabilidade. Às vezes, ainda dá um friozinho na barriga de fazer parte do Fórum das Juventudes, de carregar esse negócio. Mas então lembramos que não estamos sós, já passou uma galera por aqui e vai passar uma outra galera, num movimento constante. É isso. Eu fico feliz demais.

jovens e mães
contra o
genocídio
da juventude
negra